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Analisando Finanças Corporativas (parte 1/2)

Saber interpretar minimamente os números financeiros de uma corporação é muito importante tanto para quem a observa de fora quanto para quem a conhece de dentro. Através de fórmulas simples é possível identificar sua performance atual através de seus números passados e analisar futuras melhorias. Este artigo tem o propósito de introduzir o vocabulário comum e apresentar as ferramentas mais básicas para tais análises. Uma empresa pode ser analisada de um ponto de vista operacional e de outro patrimonial.

Operacional: Receita, Despesas e Lucro Líquido

A base desse conhecimento começa com alguns conceitos essenciais:

  • Receita (Revenue): todo capital ganho através da venda de serviços ou produtos. É importante entender que pode haver capital proveniente de outras fontes, além de serviços e produtos, que não entram na receita: aluguéis, rendimentos de uma aplicação financeira, etc. A receita, muitas vezes, também é referida como “top line“.
  • Despesas (Expenses): tudo aquilo que é consumido na operação do negócio. Elas podem ser fixas (salários, aluguéis, etc) ou variáveis (aluguéis de equipamentos específicos, consultorias, etc).
  • Lucro Líquido (Net Income): é a receita deduzida das despesas fixas e variáveis. O lucro líquido muitas vezes também é referido como o “bottom line” na demonstração de resultados.

Lucro Líquido = Receita – (Despesas fixas + Despesas variáveis)

Perceba que o lucro líquido está muito relacionado à performance operacional de uma empresa em determinado período. Ou seja, a capacidade da empresa gerar capital (receita) reduzida da quantia consumida na operação (despesa).

Exemplo de lucro líquido de algumas empresas no ano fiscal de 2018:

Credits: Jim Stice & Earl Stice (Corporate Financial Statement Analysis)

Dessa forma a margem de lucro (Profit Margin), uma das principais métricas de lucratividade de uma empresa, é calculada através da razão entre lucro líquido e receita:

Margem de Lucro = Lucro Líquido / Receita

Exemplo de demonstração das margens de lucro da Starbucks e Dunkin’ Donuts referentes ao ano fiscal de 2018:

Credits: Jim Stice & Earl Stice (Corporate Financial Statement Analysis)

Patrimonial: Ativos, Passivos e Patrimônio Líquido

  • Ativos (Assets): são compostos por tudo aquilo que pode gerar valor econômico atual ou futuro para a companhia. Ou seja, tudo que pode ser transformado em dinheiro. Exemplos: mercadorias, dinheiro em caixa, dívidas de clientes, equipamentos, etc.
  • Passivos (Liability): os passivos, também referidos como “obrigações” ou “responsabilidades” de uma empresa, correspondem, de forma geral, às dívidas que uma empresa possui. Essas dívidas podem ser de naturezas distintas: legais, tributárias, financeiras, serviços, etc. Exemplos: empréstimos a pagar, hipotecas, serviços a prestar, etc.
  • Patrimônio Líquido (Equity): se refere à verdadeira riqueza da empresa. Ou seja, tudo aquilo que pertence aos acionistas. Matematicamente falando, é a diferença entre ativos e passivos da companhia. É importante mencionar que aportes de capital próprio e lucros retidos também compõem o PL da empresa.

Patrimônio Líquido (Equity) = Ativos (Assets)Passivos (Liability)

Esse conceito, diferentemente do lucro líquido, não se refere à capacidade operacional da empresa em determinado período. Ao invés disso, o PL se refere à toda riqueza real da empresa em seu ciclo de vida. Ou seja, tudo que ela produziu até o momento e pode ser convertido em dinheiro, referido como ativos (terrenos, equipamentos, dinheiro em caixa) menos suas dívidas e obrigações, referidas como passivos (empréstimos, serviços a concluir, hipotecas, etc).


Demonstrações Fundamentais

Existem três demonstrações fundamentais para a compreensão de uma análise financeira:

  • Balanço Patrimonial (Balance Sheet): contém, principalmente, a lista dos ativos e passivos de uma organização. Através do balanço conseguimos calcular o patrimônio líquido.
  • Demonstração de Resultados (DRE) (Income Statement): report do resultado financeiro de uma empresa em determinado período. No DRE encontra-se a performance operacional da empresa naquele exercício. Ou seja, o lucro líquido da empresa em determinado período.
  • Demonstração de Fluxo de Caixa (Statement of Cash Flows): report detalhado da quantidade de dinheiro recebido e gasto por uma empresa em determinado período. Geralmente, a demonstração de fluxo de caixa envolve atividades operacionais (operating), investimentos (investing) e financeiras (financing):
    • Operacionais: capital coletado, dinheiro pago pelo inventário, dinheiro gasto em salários, aluguéis, marketing, etc.
    • Investimentos: investimentos realizados para melhorar a produtividade, compra de prédios, terras, máquinas, equipamentos, etc.
    • Financeiras: Dinheiro tomado emprestado, dinheiro de investidores, pagamento de dividendos, etc.

Exemplo de balanço patrimonial da empresa fictícia BB.Co:

Exemplo de fluxo de caixa de algumas empresas no ano fiscal de 2018:

Credits: Jim Stice & Earl Stice (Corporate Financial Statement Analysis)

Retorno Sobre o Patrimônio Líquido (Return On Equity)

O ROE (Return On Equity) é uma das medidas financeiras mais utilizadas no mundo para avaliar a performance de uma empresa em determinado período. Em linhas gerais, ela representa o lucro obtido por dólar/real investido na empresa. Considere um exemplo, muito simples, de demonstração de resultados em um período X da empresa fictícia BB.Co, introduzida previamente:

Simplesmente analisando somente esse demonstrativo é difícil determinar se a performance da empresa é boa ou ruim. Apesar de um lucro líquido positivo não se sabe o que isso representa, em termos de performance, dado o tamanho da empresa. Sendo assim, o ROE é a métrica que permite comparar a performance de empresas de tamanhos distintos.

De forma simplista, no final das contas deseja-se obter uma razão percentual do resultado operacional no período (Lucro Líquido ou Net Revenue) comparado com a riqueza geral da empresa (Patrimônio Líquido ou Equity). Ou seja, serve para analisar o potencial e estabilidade de uma empresa uma vez que ele descreve o quanto a mesma consegue manter um crescimento administrando seus próprios recursos. Logo, o ROE é dado pela seguinte fórmula:

ROE = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido

Em termos gerais um ROE entre 10% e 20% é considerado na média do mercado:

Credits: Jim Stice & Earl Stice (Corporate Financial Statement Analysis)

Sendo assim, voltando nossa análise à empresa fictícia BB.Co, temos um lucro líquido de R$ 1.850,00 no período X, sobre um patrimônio líquido de R$ 5.900,00. Logo um ROE de 31%. Esse ROE representa um resultado muito bom no período, pois indica que ela gera 31 centavos de novos ativos por real investido pelos acionistas.

Exemplos de ROE de algumas empresas norte americanas no ano fiscal de 2018:

Credits: Jim Stice & Earl Stice (Corporate Financial Statement Analysis)

Analogamente, analisando a imagem acima é possível perceber que a Apple gerou 55 centavos de novos ativos por dólar investido aos acionistas no ano fiscal de 2018. Já o Walmart, no mesmo ano, gerou apenas 8 centavos de novos ativos por dólar investido. Com isso temos a base de comparação para entender que a Apple teve um desempenho muito melhor que o Walmart nesse ano.


Conclusão

A análise financeira corporativa pode ser dividida em duas partes: operacional em um dado período e patrimonial. Os conceitos de receitas, despesas e lucro líquido se referem à sua capacidade operacional no período e podem ser encontradas na demonstração de resultados da empresa. Já os conceitos de ativos, passivos e patrimônio se referem à riqueza atual da empresa e podem ser encontrados no balanço patrimonial.

É importante não confundir despesa com passivo. A primeira se refere à uma capacidade operacional, ou seja, o quanto gastamos no período na execução do negócio. A segunda se refere às obrigações atuais e futuras da empresa.

O retorno sobre o patrimônio (ROE) é uma forma de medir o potencial e estabilidade de uma empresa. Logo, é uma ferramenta amplamente utilizada por investidores para entender a performance das companhias no período.

No próximo artigo abordarei um pouco sobre os componentes da análise DuPont que compõem o ROE de uma empresa.

2 thoughts on “Analisando Finanças Corporativas (parte 1/2)”

  1. Pingback: Analisando Finanças Corporativas (parte 2/2) – Bibi's blog

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